segunda-feira, 27 de agosto de 2012

"PONTO DE MUTAÇÃO"


“Ponto de Mutação” Ponto de Mutação (Mindwalk, EUA, 1990), dirigido por Bernt Capra, tem roteiro de Floyd Byars e Fritjof Capra, baseado no livro Ponto de Mutação (The Turning Point), de Fritjof Capra; a história para o cinema foi escrita pelo próprio diretor. Jack Edwards (Sam Waterston), um ex-candidato à presidência dos EUA, Thomas Harriman (John Heard), poeta em crise de meia idade e Sonia Hoffman (Liv Ullmann), uma cientista que se acha em recesso, afastada das atividades por decepção com o uso bélico de seu trabalho, encontram-se na cidade de Saint Michel, na França, aonde Thomas mora. O encontro entre os três se dá durante uma visita turística a um prédio medieval, na sala onde ainda está em funcionamento um enorme relógio mecânico, com grandes engrenagens e um pêndulo, ocupando parte do compartimento. Antes, Jack e Thomas discutiram questões políticas, profissionais e existenciais. Com Sonia a conversa se expande e incorpora questões científicas, com Descartes, com a seguinte afirmação de Sonia: “- Bem, ele [Descartes] foi o primeiro arquiteto da visão do mundo como relógio, uma visão mecanicista que ainda domina a maior parte do mundo e, especialmente, para mim, vocês políticos.” Ao longo de uma caminhada pelas edificações medievais e pelo ambiente natural da ilha, a conversa vai do mundo mecanizado, mecanicista, mecânico firmado inicialmente, até chegar à Teoria dos Sistemas (System Theory, The Theory of Living Systems) que, segundo Sonia “coloca todas as idéias ecológicas [...] numa estrutura científica coesa e coerente. [...] Todos os seres vivos bem como os sistemas sociais e os ecossistemas. [...]” O filme torna-se fluente porque envolve significativamente a realidade dos personagens e traz à tona, além de questões científicas, políticas, filosóficas e ecológicas, os sentimentos, as frustrações, as expectativas de cada um, enfim, a vida. Sonia, na verdade, acha que Descartes “foi uma dádiva divina para o século XVII, mas os tempos mudaram.” Ela exemplifica inicialmente com a evolução do próprio relógio, e em seguida apresenta o problema da superpopulação. Fala das crianças que morrem no mundo de desnutrição e de doenças evitáveis. Argumenta que tal situação é “parte de um sistema maior, que envolve a economia, o meio ambiente e, sobretudo, a grande dívida do terceiro mundo” e que “o fardo dos empréstimos frenéticos não recai sobre quem tem contas no estrangeiro ou empresas, mas, sim, sobre os que não têm nada.” A reflexão sobre este tema é contundente e passa pela destruição da floresta. E toca-se fogo na floresta. E vem o efeito estufa enquanto se gasta na corrida armamentista. O que há é uma crise de percepção. Sonia diz que Francis Bacon julgou bruxas no reinado de Jaime I e fala mais contra o cientista: “[...] Bacon usou metáforas ao escrever que a natureza devia ser caçada, posta para trabalhar, escravizada. [...] Notou como ele se refere à Mãe Natureza como mulher? Como se ela não passasse de uma bruxa?” Sonia é contundente na continuação do raciocínio: “- Mas a ciência moderna, a tecnologia, os negócios não fizeram o que Bacon sugeriu, torturar o planeta? Não é a velha idéia patriarcal do homem dominando tudo?” Thomas, por ele próprio considerado um marido fracassado, um poeta faminto e um mau professor, reage em relação à idéia patriarcal defendida por Sonia e com exemplos afirma que “patriarcal” é o mal nas mulheres e nos homens. Sonia rebate o poeta com veemência falando de dois princípios em todo ser vivo, o masculino, agressivo e o feminino, gentil. Sonia, chega a ficar furiosa: “- Estou dizendo que tais princípios costumavam estar equilibrados e agora o homem, sim, o homem, criou ferramentas e armas físicas e intelectuais para desequilibrá-los totalmente. Demos ferramentas mecanizadas a pessoas sedentas de poder! Estou dizendo que vocês homens perderam o controle! [...]” Sonia insere Newton em suas considerações: “- Descartes tinha um sonho. Foi Isaac Newton que o concretizou, que o transformou em teoria científica, em poder. [...] Era um feito tão incrível para a época, que as Leis de Newton logo foram adotadas como a teoria correta da realidade, as leis finais da natureza. [...] Sonia fala da natureza da luz e para isso descreve a composição da matéria. Ela a esmiúça em detalhes. Julius Robert Oppenheimer, o físico americano que dirigiu o Projeto Manhattan para o desenvolvimento da bomba atômica, Harry S. Truman, o presidente dos EUA que ordenou o lançamento das bombas em Hiroshima e Nagasaki entram nos diálogos de Sonia. Afinal, quem é responsável pela destruição causada pela aplicação dos conhecimentos científicos? Qual a responsabilidade do cientista? Após citar trechos de Pablo Neruda, Thomas indaga: “- E as outras pessoas em seu sistema Sonia? As que você ama. E esses turistas aos quais nos achamos tão superiores, também não são como peixes presos dentro do vento? Talvez seja pior para eles, pois não tem como descrever isto. Diga-me, onde é o nosso lugar lá dentro, o das pessoas reais, com suas qualidades, desejos, fraquezas? [...].” Ponto de Mutação não é uma aula e nem uma palestra filmadas, é de fato um filme de bom cinema, é para ser visto e revisto por cientistas, por políticos e por poetas, por todos nós seres reais neste mundo tornado tão complexo pela ação de todos nós.(Arnaldo Prado Junior)

*O filme “Ponto de Mutação” será exibido dia 30/08 no Cine Saraiva (Livraria Saraiva) às 17h.

Um comentário:

Osvaldo Aires Bade disse...

COISAS DE CINEMA.
- Orwa Nairabiya: Assine a petição para a libertação do produtor sírio:
http://cinenegocioseimoveis.blogspot.com.br/2012/08/orwa-nairabiya-assine-peticao-para.html
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- Pensem nesta vergonha, senhoras ministras e senhores ministros do Supremo: até agora, esta inocente é a única punida do mensalão!
http://cinenegocioseimoveis.blogspot.com.br/2012/08/pensem-nesta-vergonha-senhoras.html
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Abraço a Todos
Osvaldo Aires

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