quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

AINDA "A TROCA"


Dando continuidade ao enfoque sobre o filme "A Troca"(Changeling/EUA, 2008) espero avaliar sua afinidade com o chamado "film noir", titulo dado aos exemplares que geralmente tratavam de enredos policiais e se caracterizavam pela imagem escura, com os detetives trajando capas longas e chapéus de feltro, envolvidos em uma trama rocambolesca que se dirigia para a descoberta de um criminoso ou das causas que envolviam um crime. Os "noir", que nos livros de história do cinema tem o nome ligado ao produtor Jack L. Warner, que assim teria chamado as produções de baixo orçamento de sua própria firma (Warner Bros) ligadas ao gênero (policial/suspense), devem, também, o título aos críticos franceses (daí o termo "noir"/negro), estes culpando a Warner de economizar luz (spots) nas filmagens. Tantas "desculpas" acabaram por deixar marcas indeléveis na indústria cinematográfica, e, pode-se dizer que muito se deve ao cineasta John Huston, inicialmente como roteirista depois dirigindo exemplares marcantes do gênero como "Relíquia Macabra" (The Maltese Falcon/1949) e "O Segredo das Jóias"(The Aspohalt Jungle/1950).
"A Troca" é ambientado na Los Angeles do final dos anos 20 e a recriação do ambiente é um dos pontos altos da produção, também assinada (assim como a música) por Clint Eastwood, com direção de arte (cenografia) a cargo de Patrick M. Sullivan Jr. Esta ambientação já promove o filme à "noir", auxiliada que é pela introdução em preto e branco (em negativo colorido) com a logomarca da Universal Pictures da época (as letras girando em torno do globo). Mas a iluminação, a cargo de Tom Stern é capital para o desenvolvimento da trama e se alia aos requisitos dos "noir" típicos. Os enquadramentos, especialmente na casa de Christine Collins (Angelina Jolie) jogam a luz, em tom vermelho ou negro, para o lado e trabalham a economia de cores na construção de um ambiente que induz ou prediz a angústia que cerca a personagem. Pode-se perguntar por que o recurso não chega à fazenda onde se dá o crime hediondo que marca o filme. Mas, apesar da seqüência escura das crianças tentando fugir de um espaço cercado por alambrados, o quadro não é presenciado pela mãe do menino desaparecido. Ela é o centro das atenções da câmera e em torno dela corre todo o processo narrativo, com as exceções cenográficas endossando o conjunto.
É possível observar que a mis-en-scène de "A Troca" é fundamental na exposição da argumentação narrativa conduzida por um roteiro bem escrito.
Assisti ao filme de Clint Eastwood depois de ver o também importante "Lanchonete Olímpia" (Chocking Man/2006) fazendo o programa Moviecom Arte (sessão de 14 horas na mesma sala que exibe, a partir das 15h45, a obra de Eastwood). Apresso-me em recomendar aos leitores este filme porque o mesmo sairá de cartaz nesta quinta-feira, dia 15.
Aproveito o espaço para tratar de um filme que foi exibido e não mais estará à disposição do nosso público em tela grande (quem não viu no Cine Estação) deve esperar o DVD. Trata-se de "Mandela" (Goodbye Bafana/EUA, África do Sul, 2007) de Bille August. O roteiro de Gregg Later com base nos livros de Bob Graham e do próprio personagem James Gregory, aborda os anos de prisão do líder sul-africano Nelson Mandela, período em que os ingleses tiraram de cena uma figura popular deixando, no entanto, um movimento de violência nas ruas que acabaria por encerrar o famigerado "appartheid", sistema que tirava o poder do país das mãos da maioria negra, não só libertando Mandela como guinando-o à presidência que exerceria por algum tempo.
A narrativa linear procura dinamizar os fatos históricos como se o texto literário (a forma de uma novela) estivesse sendo lido através de imagens. Isto, aliás, é uma especialidade, digo assim, do diretor que realizou, entre outros títulos, "Pelle O Conqusitador" e "A Casa dos Espíritos".
O ator Joseph Fiennes protagoniza o sargento James Gregory nomeado para um cargo da Inteligência política do governo, numa prisão, onde fiscaliza as correspondências dos prisioneiros entre os quais se acha Nelson Mandela. Por seu desempenho, pode ser promovido a tenente se continuar denunciando as "partes proibidas" escritas nas cartas recebidas ou enviadas. Ele vai cumprindo a sua missão, mas a consciência dos fatos que presencia sendo também responsável pelos excessos quando uma denuncia que faz ao comando maior leva à morte o filho mais velho de Mandela em um suposto desastre de carro. Em seguida o militar começa a se questionar vendo os atos bárbaros de seus conterrâneos para com os prisioneiros. Seus dois filhos ainda criança sentem-se constrangidos com o que vêem e a ele cabe decidir atitudes que minam a sua carreira e chegam a preocupar a esposa, que sempre deseja melhoria de condições de vida (ela exerce a função de cabeleireira).
Fiennes está muito bem, e não se pode criticar igualmente a Dennis Haysbert, com boa caracterização do tipo que encarna, Nelson Mandela. Da mesma forma a narrativa procede como um documento para os que desconhecem o "appartheid" e como se deu a mudança política na África do Sul. Deixa na lembrança do espectador o papel de Gandhi na Índia. Uma peça histórica que o cinema estampa com sobriedade, merecendo atenção.
SITE
No dia 14, quarta feira, foi inaugurado o site do Espaço Municipal Cinema Olympia, no próprio recinto. Produzido pela Sol Informática, o espaço na Internet tem links para várias informações, como a história do mais antigo cinema do Brasil e curiosidades em torno de sua longa e produtiva presença como espaço cultural. Também focaliza a programação diária. Uma página bem construída que estava sendo pedida pelos que entendem que o Olympia faz parte da história de Belém. Afinal um presente para o aniversário da cidade.

Luzia Miranda Álvares
luziamiranda@gmail.com

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