Clinton Eastwood Jr. fará 79 anos no próximo dia 31 de maio. Nascido em S. Francisco, Califórnia (USA), tem registrado seu perfil como Clint Eastwood desde os anos cinqüenta do século XX, como ator, diretor, produtor, roteirista, compositor e tantas outras dimensões que são parte da criação cinematográfica. Não só para o cinema em si, mas para a TV. Sua primeira aparição nas telas foi em “Revenge of the Creature (A Revanche do Monstro, 1955) dirigido por Jack Arnold, no papel não creditado de um técnico de laboratório. Nesse mesmo ano foi levado à TV por Dick McDonough em “Allen in Movieland”, com Steve Allen apresentando a banda de Benny Goodman num programa da Universal Studio. Clint teve o seu primeiro contrato assinado nessa empresa. Mas o que deu maior visibilidade ao então ator Eastwood foi sua presença em três filmes de Sergio Leone: “Per un pugno di dollari” (Por Um Punhado de Dólares 1964), “Per qualche dollaro in più” (Por Uns Dólares a Mais1965) e “Il Buono, il brutto, il cattivo”(3 Homens em Conflito 1966).
Estas referências curtíssimas querem apenas iniciar o texto sobre o mais recente trabalho do diretor Eastwood que desde os anos setenta está “por trás das câmeras” (Play Misty for Me, Perversa Paixão, 1971; The Beguiled: The Storyteller, 1971, curta metragem) e hoje circula entre nós com um dos filmes possivelmente já na lista de melhores filmes deste ano: “A Troca” (Changeling, USA, 2008). Com roteiro de J. Michael Straczynski o filme inspirou-se no drama de Christine Collins (Angelina Jolie), moradora no subúrbio de Los Angeles que em 10 de março de 1928, ao retornar à sua casa depois de um dia de trabalho extra como telefonista, percebe o desaparecimento de seu filho Walter, de oito anos. Depois de procurar intensamente nos arredores, telefona ao Departamento de Polícia (LAPD), mas em vão, eles dizem só receber esse tipo de denúncia depois de 24 horas. Daí em diante a busca inicia, seguem-se meses de investigação quando, certo dia, a mãe recebe a noticia de que seu filho fora encontrado. Mas ao olhar a criança Christine percebe não ser Walter, sendo, entretanto, obrigada pela polícia a confirmar que é o filho até acostumar-se com as mudanças que eles dizem ter ocorrido com o garoto se tornando estranho para o reconhecimento imediato. Daí em diante inicia-se a via crucis dessa mulher tentando provar que o menino não é seu filho, com o delegado encarregado do caso (Jeffrey Donovan) impondo suas declarações numa outra lógica e deixando de lado as afirmações da mãe. Da prisão em um hospital psiquiátrico aos choques para referenciar a “verdade policial”, contudo, Christine consegue aliados através de um ativista local, o Reverendo Briegleb (John Malkovich) e passa a outra seqüência de buscas e declarações públicas do fato até chegar a episódios fatais e a ocorrências de tortura e morte que demonstram a corrupção no LAPD.
“A Troca” envolve três eixos principais do texto narrativo. No primeiro, a construção dos tipos; no segundo a exposição do fato principal e exploração das personagens criando vértices para outros dramas; e no terceiro, a sublinearidade dos dois primeiros, apontando a dimensão crítica das instituições.
Estão, nos referentes do primeiro eixo, o tipo vivido por Angelina Jolie, o filho Walter e todos os demais, num demonstrativo de que, a cada momento essas figuras se relacionarão através do evento principal e serão refeitas conforme as ocorrências. A seqüência do instante em que a mãe sai para o trabalho extra e a câmera explora dois planos dela e do filho que observa de dentro de casa, por trás da janela, reflete duas situações não só a suposta visão antecipada da perda entre os dois. Isto é dado pelo diálogo anterior a esse momento – sobre o pai que não conhece o filho e jamais soube de seu nascimento; e sobre o agendamento de um novo programa de lazer em outro dia – reduzindo o impacto de uma estereotipia que poderia ser sentida na narrativa. A câmera em dois ângulos ao tomar a distancia o filho, deixa pensar na amargura dele pelo lazer desfeito. Além do mais, o roteiro não evidencia que a criança fica fora de casa quando a mãe sai. Isto é suposto, já no segundo estágio da ocorrência, quando Christine busca o filho pelos arredores da casa e questiona os colegas vizinhos sobre terem visto seu filho por lá.
No segundo aspecto, os vértices que se abrem apontam para o drama da mãe exposto no trabalho, no relacionamento com os policiais, com a Igreja, com a imprensa, com as pessoas que convivem em Los Angeles, com a justiça e, destas, com outras revelações que se tornam proeminentes e assinalam facetas não esperadas quer seja da polícia (que deixa de ser vista como um bloco unânime quando outro policial deixa de seguir ordens superiores com indícios do caso), da igreja (na pessoa do reverendo que quer usar o caso de Christine como causa contra a milícia de L.A.), da medicina (a serviço da polícia), e da justiça (não convertendo o fato em político, mas deixando que o júri estabeleça os contornos necessários para a condenação do réu ou, melhor, dos réus).
Quanto à crítica às instituições que o filme explora não atinge somente o comportamento dos policiais da LAPD, mas da política que subverte as intenções daqueles em acabar com a violência em LA. A denúncia à corrupção e ao “fazer crer” da milícia em supostas histórias de triunfalismos para “mostrar serviço”, é compactuado com o governo local onde arbitrariedades são consumadas “em nome da lei”. Sobre o motivo que levou Clint Eastwood a evidenciar um caso ocorrido no final dos anos vinte para os dias atuais li comentários que fazem a ligação com a reação do governo Bush sobre a situação do Iraque, forjando provas para daí extrair uma guerra. Minha opinião é de que a preocupação do diretor visa as instituições de um modo geral que açambarcam insensatez contra os direitos humanos.
Estas referências curtíssimas querem apenas iniciar o texto sobre o mais recente trabalho do diretor Eastwood que desde os anos setenta está “por trás das câmeras” (Play Misty for Me, Perversa Paixão, 1971; The Beguiled: The Storyteller, 1971, curta metragem) e hoje circula entre nós com um dos filmes possivelmente já na lista de melhores filmes deste ano: “A Troca” (Changeling, USA, 2008). Com roteiro de J. Michael Straczynski o filme inspirou-se no drama de Christine Collins (Angelina Jolie), moradora no subúrbio de Los Angeles que em 10 de março de 1928, ao retornar à sua casa depois de um dia de trabalho extra como telefonista, percebe o desaparecimento de seu filho Walter, de oito anos. Depois de procurar intensamente nos arredores, telefona ao Departamento de Polícia (LAPD), mas em vão, eles dizem só receber esse tipo de denúncia depois de 24 horas. Daí em diante a busca inicia, seguem-se meses de investigação quando, certo dia, a mãe recebe a noticia de que seu filho fora encontrado. Mas ao olhar a criança Christine percebe não ser Walter, sendo, entretanto, obrigada pela polícia a confirmar que é o filho até acostumar-se com as mudanças que eles dizem ter ocorrido com o garoto se tornando estranho para o reconhecimento imediato. Daí em diante inicia-se a via crucis dessa mulher tentando provar que o menino não é seu filho, com o delegado encarregado do caso (Jeffrey Donovan) impondo suas declarações numa outra lógica e deixando de lado as afirmações da mãe. Da prisão em um hospital psiquiátrico aos choques para referenciar a “verdade policial”, contudo, Christine consegue aliados através de um ativista local, o Reverendo Briegleb (John Malkovich) e passa a outra seqüência de buscas e declarações públicas do fato até chegar a episódios fatais e a ocorrências de tortura e morte que demonstram a corrupção no LAPD.
“A Troca” envolve três eixos principais do texto narrativo. No primeiro, a construção dos tipos; no segundo a exposição do fato principal e exploração das personagens criando vértices para outros dramas; e no terceiro, a sublinearidade dos dois primeiros, apontando a dimensão crítica das instituições.
Estão, nos referentes do primeiro eixo, o tipo vivido por Angelina Jolie, o filho Walter e todos os demais, num demonstrativo de que, a cada momento essas figuras se relacionarão através do evento principal e serão refeitas conforme as ocorrências. A seqüência do instante em que a mãe sai para o trabalho extra e a câmera explora dois planos dela e do filho que observa de dentro de casa, por trás da janela, reflete duas situações não só a suposta visão antecipada da perda entre os dois. Isto é dado pelo diálogo anterior a esse momento – sobre o pai que não conhece o filho e jamais soube de seu nascimento; e sobre o agendamento de um novo programa de lazer em outro dia – reduzindo o impacto de uma estereotipia que poderia ser sentida na narrativa. A câmera em dois ângulos ao tomar a distancia o filho, deixa pensar na amargura dele pelo lazer desfeito. Além do mais, o roteiro não evidencia que a criança fica fora de casa quando a mãe sai. Isto é suposto, já no segundo estágio da ocorrência, quando Christine busca o filho pelos arredores da casa e questiona os colegas vizinhos sobre terem visto seu filho por lá.
No segundo aspecto, os vértices que se abrem apontam para o drama da mãe exposto no trabalho, no relacionamento com os policiais, com a Igreja, com a imprensa, com as pessoas que convivem em Los Angeles, com a justiça e, destas, com outras revelações que se tornam proeminentes e assinalam facetas não esperadas quer seja da polícia (que deixa de ser vista como um bloco unânime quando outro policial deixa de seguir ordens superiores com indícios do caso), da igreja (na pessoa do reverendo que quer usar o caso de Christine como causa contra a milícia de L.A.), da medicina (a serviço da polícia), e da justiça (não convertendo o fato em político, mas deixando que o júri estabeleça os contornos necessários para a condenação do réu ou, melhor, dos réus).
Quanto à crítica às instituições que o filme explora não atinge somente o comportamento dos policiais da LAPD, mas da política que subverte as intenções daqueles em acabar com a violência em LA. A denúncia à corrupção e ao “fazer crer” da milícia em supostas histórias de triunfalismos para “mostrar serviço”, é compactuado com o governo local onde arbitrariedades são consumadas “em nome da lei”. Sobre o motivo que levou Clint Eastwood a evidenciar um caso ocorrido no final dos anos vinte para os dias atuais li comentários que fazem a ligação com a reação do governo Bush sobre a situação do Iraque, forjando provas para daí extrair uma guerra. Minha opinião é de que a preocupação do diretor visa as instituições de um modo geral que açambarcam insensatez contra os direitos humanos.
Cotação – ( *****) Excelente
Luzia Miranda Álvares
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