O MENTIROSO, O FALSO E O HEMATÓFAGO
“Fellini, O Grande Mentiroso” é um documentário muito interessante sobre o mestre italiano. Ele mesmo conta o que pensa e o que dele pensam. Chega a dizer que contou tanta mentira sobre a sua vida que já nem sabe (sabia, pois o grande cineasta se foi há mais de 15 anos) o que é verdade. Certo ou errado de suas lorotas ou de suaslembranças alimentou-se uma geração de cinéfilos. Um de meus filmes preferidos é “Os Boas Vidas”(I Vitteloni) , aparentemente pessoal a seguir Moraldo (Franco Interlenghi),o mais evidente dos “bezerrões” que faziam a noite de Rimini antes de se mandar para Roma . Era, em 1953, um Fellini puro, ingênuo, poético, mais perto da gente do que a sua fase alegórica, as suas concepções surreais com vôos que chegaram a amarrar a lua com barbante (uma corruptela do que Jimmy Stewart disse a Dona Reed em “A Felicidade Não Se Compra”, quando ele lhe oferece a lua e ela a engoliria e sairia luz pelas pontas de seus dedos). Refiro-me a “Vozes da Lua”, o último filme do diretor, um titulo amaldiçoado desde que se exibiu para gatos pingados nos cinemas italianos. Sei não, mas uma volta, agora, era mais do que oportuna. Eu gostaria de (re)ver.
O documentário que esteve no Cine Libero Luxardo pode ser encontrado como bônus no DVD de “Os Palhaços” há muito nas locadoras (ou só na Fox da Dr. Moraes). É preciosidade. Vejam.
Falso é “O Dia em que a Terra Parou 2008”. Ganharia corpo por aqui, agora, com o Forum Social, se Klaatu (Keannu Reves), na cartilha de Michael Rennie sem lhe chegar aos pés (Rennie estrelou a primeira versão da história, dirigida por Bob Wise), não omitisse o discurso que encerra o filme de 1951, um sermão para menino malcriado que revela a missão dos ets: “-Vocês deste planeta aprenderam a usar a energia nuclear e nós os conhecemos e temos medo que vocês levem a destruição em massa para o nosso mundo. Portanto, se não aprenderem a conviver nós vamos intervir”. Isso, dito no auge da “guerra fria”, era um balde de água morna. Dissolvia gabolices de sectários. Agora, fiel a Al Gore, o visitante do espaço pede equilíbrio ecológico. E a gente pergunta: “-Que diabos os seres de outra galáxia tem a ver com a nossa poluição ?”
Ah sim: Klaatu troca o disco voador por uma esfera monumental confundida com um asteróide gigante. Tudo para fomentar efeito especial. O tamanho da babaquice.
E para terminar, o jovem vampiro que namora uma garotinha legal e não pode sequer lhe dar um cheiro no pescoço sob pena dela entrar para o seu clube. A idéia é da escritora Stephenie Meyer, americana de 37 anos que descobriu a pólvora bolando um romance sem sexo por conta de uma forma de castidade profilática, ou seja, uma forma de reedição da maçã edênica. Refiro-me a “Crepúsculo”(Twlight), o titulo preferido da moçada que se conforma em não transar com o namorado nem com a camisinha do Homem de Ferro.
O cinema vive de sonhos. E os sonhos variam na razão direta do intelecto de quem sonha. Um empresário de Hollywood sonha com uma adaptação estilo blockbuster de seu talão de cheques.
(Pedro Veriano)
domingo, 25 de janeiro de 2009
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