É muito comum vermos um relacionamento materno/fraterno em frangalhos nas telas de cinema. Quantas vezes a disputa entre gerações foi representada em um filme? Inúmeras, mas poucas vezes o amor e a mágoa entre mãe e filha foram tão palpáveis, mostrados de forma realista e tocante quanto em Sonata de Outono, de Bergman.
O filme, o único que o cineasta sueco fez com a atriz sueca Ingrid Bergman – que foi imortalizada por sua Ilsa Lund em Casablanca -, está em exibição hoje, no cineclube Alexandrino Moreira dentro da Sessão promovida pela Associação de Críticos de Cinema do Pará.
Sonata de Outono (Hostsonaten em sueco), foi rodado em 1978 e simboliza a última passagem de Ingrid pelo cinema. Ela interpreta Charlotte, uma calejada pianista, famosa e cansada dos holofotes, que retorna a terra natal em busca de paz de espírito. O que ela encontra fica muito distante de qualquer paz. O reencontro com a filha, Eva (Liv Ullman), também tornou-se pianista, talvez pelo desejo de agradar a mãe ou ser melhor que ela, não é amável.
Elas não se vêem há sete anos, e muitos traumas e rancores vem a tona. Eva é mulher de um pastor, tem uma vida pacata e não se destaca no seu ofício. A mãe continua sendo requisitada, e quando revê pela primeira vez a outra filha, Helena (Lena Nyman), a culpa toma conta de si. Helena é portadora de uma cruel doença degenerativa, e foi abandonada por Charlotte num hospital. A irmã a tirou de lá e a levou para morar consigo. A obrigação que deveria ser da mãe, ela cobra, nesse amargo reencontro.
Nessa obra, Bergman vai além do seu cinema psicológico/psicanalítico, ao reservar a potencia dramática do filme não apenas aos diálogos bem elaborados, mas também aos olhares. O olhar de Eva expressa o desapontamento com a falta de afeto materno. O olhar de Helena, perdido, busca um consolo para a sua existência um tanto quanto vã. O olhar de Charlotte, firme muitas vezes, esconde uma frustração. Ela se ressente das filhas não serem mulheres fortes, de repente. Ou se ressente das escolhas que tomou, não sabemos ao certo.
Fato é que em Sonata de Outono, Bergman fala do amor. Da falta que ele faz na vida, de como é necessário para o nosso amadurecimento. Não é um filme fácil, mas é uma reflexão fundamental e atual, quando muitas vezes deixamos a família ou as pessoas de lado, em detrimento de sermos bem sucedidos. E a felicidade, aonde fica? O mestre sueco prova, apoiado na sua narrativa e na disputa artística entre as atrizes Ingrid e Liv, que se digladiam para mostrar quem é a melhor, que cinema é arte e também é terapia, e das boas. (Lorenna Montenegro)
domingo, 22 de janeiro de 2012
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