MOSTRA NO CINE LÍBERO LUXARDO
Dezessete produções para celebrar Belém
No próximo dia 12 de janeiro de 2012, Santa Maria de Belém do Grão Pará completa 396 anos de fundação e quem é premiado é o público paraense, com duas mostras cinematográficas que apresentam a diversidade da produção local, indo de filmes com temáticas regionais, universais e que falam da nossa essência.
Continua em cartaz no cinema Olympia a mostra “O Cinema Paraense em Destaque”, para exaltar a produção audiovisual do Estado. São cinco filmes em exibição, sendo um deles o conhecido “Açaí com Jabá”, que mostra o conflito entre o paraense e o turista, entremeado por uma tigela de açaí. Dirigido pelos publicitários Alan Rodrigues, Marcos Daibes e Waleriano Duarte, é um dos curtas mais conhecidos país afora, tendo participado em diversos festivais e sendo muito assistindo em sites como o you tube.
Açaí com Jabá também está na Mostra Belém 396 anos, no Cine Líbero Luxardo, que exibe curtas, médias, longas, filmes de ficção e promove bate-papo com alguns diretores. Outros filmes que compõem as duas mostras são Matinta, de Fernando Segtowick, premiado no Festival de Brasília em 2010 e mais recentemente no Amazônia Doc.3, e uma obra pouco badalada de Jorane Castro, o documentário Invisivéis Prazeres Cotidianos.
Em Matinta, Segtowick realiza seu melhor filme de ficção, repaginando a lenda amazônica num enredo aterrorizante, num trabalho realmente coeso e bem feito de utilização da linguagem, atuação e composição visual. Projeto selecionado pelo Itaú Cultural, Invisíveis Prazeres Cotidianos utiliza cinco blogs sobre Belém – na verdade a visão de mundo de cinco jovens da cidade que escrevem nesses diários virtuais – para apresentar um olhar particular e contemporâneo sobre Belém, e também muito pessoal, já que a própria diretora documenta suas impressões na obra.
Realizado no final da década de 80, o curta “Ver-o-Peso”, dirigido por Januário Guedes, está na mostra não só por ter o mercado como elemento central do enredo, mas por prestar uma poética homenagem a cidade das mangueiras, no mercado que é a síntese cultural da homenageada. Outro filme que tem a capital como centro é “Belém aos 80”, de Alan Kardeck. Nele, conhecemos através de depoimentos de personagens que tiveram intensa atuação no cinema, teatro, música, artes plásticas, nas manifestações da cultura popular, o panorama cultural da cidade.
Produções coletivas, resultados de oficinas no Instituto de Artes do Pará e na Caiana Filmes, os curtas O Mundo de Célia e Veronika não deita abrem espaço para se descobrir novos talentos e novos olhares através da experimentação.
O primeiro, resultado do projeto Ponto Brasil, realizado no Instituto de Artes do Pará em 2009, através do Núcleo de Produção Digital / NPD, dá voz a uma prostituta que vive em rua histórica de Belém, usando da linguagem híbrida entre documentário e ficção. Filmado em 2009, o Mundo de Célia entrou no box da I Mostra ABDeC-Pa, realizada em maio de 2010. É também uma das primeiras direções do fotógrafo Bruno Assis, ex-vice-presidente da ABDeC-Pa, e falecido em 15 de fevereiro de 2011.
O Engano apresenta um homem relembrando um carnaval que o fez duvidar da própria opção sexual. O curta dirigido por mim foi um dos selecionados na mostra Primeiro Olhar, uma iniciativa da Associação Brasileira de Documentaristas do Pará, que em 2003 produziu cinco curtas de novos realizadores, que foram gravados ao longo de 24 horas.
Um dos diretores de animação mais produtivos do estado, Andrei Miralha participa da mostra com Muragens - Crônicas de um muro”, curta de 12 minutos que conquistou em 2011 o prêmio Major Reis e o consequente troféu Mapinguari como melhor filme de animação em Rondônia, no Festcine Amazônia. A obra é uma interferência ficcional num recorte urbano real, o entorno do muro dos fundos do cemitério da Soledad, em Belém do Pará.
Jorane tem dois filmes na mostra. O segundo é o curta de ficção Ribeirinhos do Asfalto, que participou da mesma edição do Festcine Amazônia que premiou o trabalho de Miralha, além de ter saído premiado dos Festivais Guarnicê, no Maranhão e de Gramado. O trabalho de Dira Paes merece destaque na obra, que une dois universos – o urbano e o rural que se confrontam quando uma mãe decide dar uma vida melhor a filha.
A parceria do roteirista Adriano Barroso e do diretor Roger Elarrat gerou a primeira série produzida pela TV Cultura do Pará, “Miguel Miguel”, que apresenta uma trama de mistério e humor negro. Baseada na obra de Haroldo Maranhão, a série condiciona uma boa produção a um trato dramatúrgico impecável, levando a mais um produto de qualidade do audiovisual local.
E para encerrar a mostra de Líbero Luxardo, o cineasta paulistano com espírito de paraense que dá nome ao espaço, passará Brutos Inocentes e Um Dia Qualquer. Brutos é dividido em dois episódios ambientados na floresta amazônica. Em um deles, um capataz maltrata os seringueiros, que vivem em regime de servidão em uma vila, aonde um deles é viúvo e vive com sua filha Joana, muda por causa de um trauma. Na sequencia, um jovem casal branco vive singelamente, esperando a chegada do primeiro filho. A mulher não atende aos conselhos das amigas do povoado e olha para o eclipse da lua. Resultado: o filho nasce negro e a problemática, estabelecida.
Líbero é matéria prima para estudo de vários acadêmicos, principalmente aqui no Estado. Premiado pelo IAP, o projeto “A Amazônia na Produção Cinematográfica de Líbero Luxardo, apontou o pioneirismo da contribuição ao inicio docinema na Amazônia feita pelo cineasta paulista.
O primeiro filme produzido aqui, Um dia Qualquer está na mostra e resume a cinematografia de Líbero perfeitamente, por ser o mais amplo de todos e o que melhor tentou apreender as representações construídas pelo cineasta com a cidade, seus atrativos e habitantes, tal e qual Nelson Pereira dos Santos e o Rio de Janeiro.(Lorenna Montenegro)
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
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