sábado, 4 de fevereiro de 2012

HOMENAGEM DA ACCPA AO TALENTO DE THEO ANGELOPOULOS

Silencio na forma de imagens
ACCPA homenageia o talento do cineasta Theo Angelopoulos, com a exibição de dois filmes emblemáticos
Atropelado por uma moto. Assim deixou este mundo o homem que, através do cinema projetou um mundo vasto, cheio de complexidades, transmutadas na sua amada Grécia, mas explorando temas universais, que o tornaram premiado pelo olhar sensível e reflexivo. Ele era Theo Angelopoulos, que faleceu aos 76 anos no último dia 25 de janeiro – em meio as filmagens de “O Outro Mar” – e ganha uma merecida homenagem da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), a partir de hoje com a exibição de “Paisagem na Neblina”.
Figura emblemática do novo cinema grego, iniciado na década de 1970, Angelopoulos foi premiado com a Palma de Ouro de Cannes, em 1998, por “A eternidade e um dia”, prêmio que abriu a prerrogativa para que os cineastas gregos conseguissem penetrar nos circuitos internacionais. Ele falava da Grécia e se confundia com a própria ideia de cinema grego, com filmes como o “Paisagem na Neblina”, que mostra dois irmãos que abandonam o lar em busca do pai, que fugiu para a Alemanha. A questão é que eles não sabem se o pai existem, e começam a empreender uma jornada dramática ao mundo adulto.
Já em “O Passo Suspenso da Cegonha”, filme que será exibido na próxima segunda, um jovem jornalista é enviado a uma região de fronteira, onde descobre uma cidade dividida por um rio, assim como seus moradores. Lá, ele encontra refugiados de diferentes países, que esperam a chance de sair daquele lugar – chamado de ‘sala de espera’ – e recomeçar a vida noutro lugar qualquer. Os dois filmes, realizados no final dos anos 80/começo dos anos 90, representam boa parte das crenças morais e estéticas de Angelopoulos. . Uma busca pela harmonia, pela felicidade, pelo sonho de ser, transformada em imagens etéreas e silenciosas.
“Angelopoulos foi um diretor que respeito o cinema como uma arte em busca de perguntas e respostas ao universo humano, usando as imagens como elemento estético de poesia tanto quanto os diálogos. Seus filmes são marcados pelas longas sequências sem cortes que dimensionam o roteiro e permitem que o espectador sinta a cena com toda a força dramática que tem. Sua sensibilidade de equilibrar longas sequências sem cortes, com diálogos cheios de poesia, silêncios com significação, gerou inúmeras cenas antológicas para o cinema”, frisou o crítico e presidente da ACCPA Marco Antônio Moreira.
Nascido em 1935, Angelopoulos foi uma crianças que sofreu com as atribulações da vida grega da época, com a II Guerra Mundial e a Guerra Civil, da qual o pai "desapareceu" depois de ter sido preso, episódio que marcou e a que muito anos depois, viria a revisitar, em mais de um filme, continuamente. A partida, o rompimento, o não pertencimento, são temas que tornam filmes como “Paisagem na Neblina” quase que autobiográficos.
Humanista e introspectivo, Angelopoulos teve seu estilo consolidado por esse filme singelo, que venceu o Leão de Prata no Festival de Veneza e foi eleito como melhor filme pelo European Film Award. “Exibido no Brasil somente nos anos 90, foi o filme que colaborou para revelar ao público brasileiro o talento e a genialidade do cineasta que anos depois realizaria “Um Olhar a Cada Dia”, uma das mais belas homenagens ao cinema”, acrescentou Marco Moreira.
Os grandes Marcelo Mastroianni e Jeanne Moreau estrelam “O Passo Suspenso da Cegonha”, realizado após o grande sucesso de “Paisagem na Neblina”, reforçando a qualidade do cinema de Angelopoulos ao tratar de um assunto ao mesmo tempo humano e político, revelando os anseios das pessoas que tiveram suas liberdades limitadas e que sonhavam com novos caminhos. “O Passo Suspenso da Cegonha” nunca foi lançado nos cinemas brasileiros.
Como o seu contemporâneo Costa-Gavras, Theo se deixou fascinar pelas luzes de Paris e pelas suas promessas de cultura e modernidade. Mas se Costa-Gavras ficou por lá, ele estudou antropologia na Sorbonne, cinema no IDHEC e voltou para sua amada Grécia. Dessa estadia na França, ele guardou – e utilizou a aprendizagem como discípulo de Jean Rouch num estágio no Museu do Homem. Angelopoulos referiu-se várias vezes a Rouch como sendo seu mentor, mesmo nunca tendo sido adepto do cinema direto protagonizado pelo mestre dos filmes antropológicos.
Theo Angelopoulos realizou 17 filmes (com esse que deixou incompleto por conta da fatalidade), contando a história e documentando a sociedade da Grécia contemporânea. Entre alguns de seus principais filmes, que merecem ser revistos estão “A viagem dos comediantes”, “Um olhar a cada dia”, “Viagem a Cítera” e a “Trilogia - O Vale dos lamentos”. (Lorenna Montenegro)

SERVIÇO:
Homenagem da ACCPA à Theo Angelopoulos.
Sessão Cult apresenta “Paisagem na Neblina”. Hoje, às 16h, no Cine Líbero Luxardo - Centur (Av. Gentil Bittencourt, 650). Entrada Franca. Inadequado para menores de 12 anos. Após o filme, debate entre o público e membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará.
Sessão ACCPA/IAP apresenta “O Passo Suspenso da Cegonha”. Na segunda, dia 6, às 19h no Cineclube Alexandrino Moreira (IAP - Praça Justo Chermont, 236, ao lado da Basílica de Nazaré). Entrada Franca. Inadequado para menores de 12 anos. Após o filme, debate entre o público e membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará.

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