sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

J. EDGAR NO OLHAR DE CLINT EASTWOOD





As sutilezas de uma criação levam, às vezes, certos olhares a não perceberem o que está por trás do produto criado. E o cinema tem essa possibilidade se um filme é elaborado por um autor autêntico. Orson Welles foi marcado por seu “Cidadão Kane” por ter mostrado, a partir das imagens de um trenó, quem poderia ser aquela figura que, em recortes de sua vida, fora tão contraditório e farsante. Não que houvesse uma biografia daquele grande homem conhecido na sociedade como jornalista e político, mas porque uma palavra balbuciada em seus estertores de morte – “rosebud” – significava muito mais do que se construída uma evidência linear de quem era ou não era esse personagem que no final da vida teve como único pensamento a infância que lhe dera, ao menos, um presente.
Clint Eastwood é um desses autores do cinema. Já demonstrou isso várias vezes. Tem suas caracteristicas formais inantingíveis, ou seja, constrói personagens sem fazer deles “herois” ou “bandidos” do tipo que o cinema norte-americano marcou desde que se estruturou, “fazendo cabeças” do/a espectador/a e, com isso, não levando este público a pensar.
É isso o que se esclarece em “J. Edgar” ( EUA, 2011), o mais recente filme desse diretor, com roteiro de Dustin Lance Black (Milk), cuja estrutura é extraida de relatos autobiográficos do próprio Hoover. O que é possivel considerar de uma narrativa dialética partindo dessa figura, que dita suas memórias a um funcionário do FBI? Comparecem variados tempos dessa narrativa, cujo olhar para traz evoca um balanço dinâmico de sua carreira até chegar ao topo do poder sendo, antes, um funcionário da Biblioteca do Congresso Americano, depois, empregando-se no Departamento de Justiça dos EUA onde avançou rapidamente na carreira. Indicado em 1919 para investigar estrageiros suspeitos de subversão teve diante de si nada menos do que Emma Goldman e, desse estágio, foi responsável pela expulsão de um número expressivo de pessoas. Esse trabalho é que o levou a galgar rapidamente outras funções sendo chefe de departamento. E pela obsessão em pesquisar qualquer coisa cadastrando e catalogando, por exemplo, livros na Biblioteca do Senado, se interessa por criar algo mais diligente quando está no combate aos que considera inimigos públicos do país como o arquivo de pessoas abarcando a população. É bom frizar que àquela altura não havia computador e suas idéias de monitorar a vida das pessoas a partir das impressões digitais ainda se constituiam em sua expectativa fantástica de eliminar os inimigos da nação, tipo, os comunistas.
Alternado tempos, o filme mostra a dedicação de J. Edgar pela mãe (não se interessa pelo pai). A sequência sobre esse fascinio é capturada de um episódio em criança quando esta o obriga a repetir que ele será um vitorioso, será ilustre e terá muito poder. As cacaracteristicas pessoais estremamente seguras e fortes desta, intermediam a consistência ao devotamento a ela.
As posições profissionais tomadas são sempre da dimensão de um lider que controla tudo e o que será feito no Departamento que dirige. Assume com isso uma política da ordem e, com esta convicção, visita senadores, presidentes, e/ ou outras figuras que possam lhe ser úteis não só no prosseguimento de suas idéias de extirpar os “maus elementos” da sociedade americana – para ele, os movimentos sociais que demandam políticas de igualdade, e/ou seus próprios funcionários quando não estão coesos com suas idéias – mas, principalmente para criar o tal Bureau (FBI, em 1924)que seria o órgão de informação do governo, mas também seu próprio poder secreto para divulgar fatos de pessoas ilustres ou não, mas sempre necassárias para ele em qualquer ocasião quando, por iniciativa própria e por ideologia conservadora fazia dessa informação a sua arma particular para conseguir mais poder e controle sobre todos. Era, por isso, um manipulador hábil e eficiente, pois, sem fatos concretos, forjava uma notícia divulgando inverdades de seus compatriotas. As justificativas para isso dizia serem parte importante para a segurança do país.
A vida pessoal e afetiva de Hoover é mesclada nessa dialética entre os sub-temas do eixo central explorado por Eastwood que é a escolha de um parceiro em quem confiava e com quem passou a dividir também espaços pessoais. Volto ao assunto.(Luzia Álvares)

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