Há tempos não via um filme tão bom do diretor Win Wenders. Sou fã do seu trabalho desde que vi “O Amigo Americano” no final dos anos setenta. Wenders sabe como poucos diretores trabalhar a imagem, o som, a narrativa e desenvolver boas histórias em seus filmes. Mas seus últimos trabalhos não alcançaram o nível da primeira fase da sua carreira. Em “Pina”, ele teve uma chance de ouro na intenção de mostrar a magnífica obra da coreógrafa Pina Baush que revolucionou a dança nas últimas décadas com seu trabalho na companhia de dança Tanztheater Wuppertal. E o desafio aumentou quando durante a elaboração do projeto, Pina faleceu aos 68 anos. Dessa forma, Wenders direcionou seu filme como uma ode ao trabalho de Pina, evidenciando sua coreografia, dentro e fora dos palcos, mostrando os dançarinos completamente envolvidos com a dança seja diante do público, seja diante da selva de pedra da cidade grande.
Wenders foi extremamente feliz em colocar a dança de Pina nas ruas. Assim, ele dimensionou o trabalho da coreógrafa, entrando em contato com o dia a dia das pessoas, coisas, lugares sem vida que cercam nossa rotina. A dança, aqui, dá vida as coisas, lugares. A simplicidade e complexidade das coreografias emocionam. Assim como emociona os depoimentos dos parceiros/dançarinos de Pina no decorrer de todo o documentário. Wenders, cineasta experiente no gênero documentário, mostra os depoimentos com a câmera captando a imagem das pessoas e deixando uma narração em “off” destas pessoas expressar seus sentimentos por Pina. Assim, nós espectadores começamos a entender o que Pina era, é e sempre será. Uma artista inspiradora que procurava tirar o melhor de cada um de forma que esse melhor explodisse com toda a força na hora da dança. “Dancem, dancem, do contrário estamos perdidos”. É isso. A dança é vida. E Pina fazia todos acreditar nisso.
Trabalhando à exaustão as cores, movimentos, cenários e enquadramentos para captar a essência do trabalho de Pina, Wenders foi realmente feliz em usar a tecnologia 3D de forma técnica mais acima de tudo, sensível, funcional, poética, exploratória, inspirando-se na imagem captada e não mentindo/forjando um efeito visual do nada para lugar nenhum como normalmente os filmes fazem com este nova tecnologia. Aqui, a força da tecnologia 3D nasce, nos inspira e nos faz acreditar que é muito mais do que simplesmente forma. O 3D pode ser parte do conteúdo, da construção estética de um filme e usado como foi em “Pina”, só podemos esperar o melhor dos futuros projetos e diretores que vejam este recurso com uma visão menos comercial e mais interativa dentro da narrativa. Ao final, o filme nos conquista ao ponto de nos sentirmos como um dos dançarinos e parceiros de Pina com uma imensa saudade e sentimento de perda desta artista inspiradora mas principalmente com uma enorme vontade de viver, compreender e aceitar o mundo através da beleza da dança. (Marco Antonio Moreira)
domingo, 25 de março de 2012
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