terça-feira, 27 de março de 2012

"DRIVE"

Jornada acelerada
Um sujeito alto, loiro, trajando uma jaqueta perolada com um imenso escorpião amarelo às costas. Ele guarda um palito de dente entre os lábios, coloca suas luvas de couro e entra num carro que não tem nada de especial. Sim, nesta história, não são os carros os protagonistas – como na lamentável série Velozes e furiosos ou no bobo 60 Segundos – e sim, o homem. Aquele que tem um talento fora de série ao volante, que cruza as estradas e ruas em velocidade, fazendo peripécias e manobras arriscadas, numa cidade que não dá trégua aos perdedores.
Com roteiro adaptado da obra de James Sallis, Drive é sobre um motorista profissional (Ryan Gosling), que arrisca sua pele trabalhando como dublê em filmes de ação. E, quando ele sai dos sets, arrisca a pele novamente, participando de roubos e operações ilegais. A vida dele não tem muitas perspectivas e ele parece não se importar com nada e com ninguém, inabalável e indiferente como uma pedra de gelo. Até que começa a travar contato com a vizinhança, no ‘cafofo’ aonde mora: conhece a meiga Irene (Carey Mulligan) e seu filho, benício.
“Eu só dirijo”
E sim, ele passa e se importar, amar os dois e ter motivos para esboçar um sorriso. Nas poucas vezes em que abre a boca e emite algum som, Ryan Gosling repete essa frase. Ela serve para ilustrar aquilo que, além de fazer melhor, é a única coisa que o preenche. Vemos a cara de satisfação quando ele acelera, despista a polícia ou bandidos, e olha pelo retrovisor os algozes comendo poeira. Ou quando se vinga colocando toda a fúria no motor e capô do carro, que termina ensanguentado.
Seus planos de vida feliz são frustrados pelo aparecimento do marido dela, que saiu da prisão. Mas quando o motora aceita a proposta do seu ‘rival’ romântico, e dirigir para ele num último trabalho, o tiro sai pela culatra e ele se vê envolto numa grande confusão. E isso implica muito derrame de sangue e abala a relação com o seu chefe manco, da oficina mecânica onde trabalha, que começa a correr risco. Entre muitas cores neons e tons enfumaçados, a Los Angeles de Drive é uma cidade perigosa, e suas ruas são promessas de conflitos para o nosso motorista anti-heroi, que destila sua fúria para salvar aqueles que ama.
Desde o principio, Nicolas Winding Refn impõe uma atmosfera oitentista para homenagear os filmes americanos de ação da época. O letreiro lilás, com uma fonte semelhante a de Dirty Dancing e Gigolô americano, a ambientação composta por roupas e atitudes que são resquícios de Velocidade Máxima, Chuva Negra, Matador de aluguel e Um tira da pesada, pipocam na tela. Mas a inocência ou falta de, estilo visual e narrativo mais, digamos, apurado, desses filmes, ficou para trás.
Drive é um sopro de criatividade, por conta do talento de Winding para expressar visualmente a angustia e a malicia do seu personagem título, em ângulos inusitados, narrativa cadenciada e muita convicção de que está, antes de tudo, lidando com uma história de um homem que se vê numa encruzilhada e tem a sua rotina permeada pela ação. Ele, minuciosamente interpretado por Gosling, é a razão das críticas empolgadas e do sucesso de bilheteria, e é por conta da sua conduta que as perseguições e a violência se tornam mais verdadeiras e autenticas.(Lorenna Montenegro)

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