A Segunda Guerra Mundial é focalizada como matéria prima de dois títulos que chegam agora em DVD, no mercado brasileiro: “Uma Vida Difícil”, de Dino Risi, e “Amarga Sinfonia de Auschwitz”, de Daniel Mann.
“Una Vita Difficile” é de 1961 e traz Alberto Sordi como Silvio Magnozzi, um ex-resistente italiano ao domínio nazifascista. Ao fugir dos soldados alemães, encontra uma camponesa, Elena(Lea Massari) que o salva do fuzilamento, abrigando-o numa casa rústica por certo tempo. Ao término da guerra, ele reassume a função anterior como jornalista da imprensa de oposição, em Roma, e reencontra Elena que resiste aos arroubos do velho amor, por sentir-se abandonada. Mas a tensão não dura muito e os dois se casam. O problema é que Silvio é um rebelde socialista e recusa propina de gente que enriqueceu ilicitamente no após-guerra. Vivendo sempre com dificuldades vai recebendo criticas em casa especialmente da sogra. Quando Elena resolve se separar eles já tem um filho e ele perde o emprego no jornal. Resolve, então, bajular um milionário. Elena volta para casa, mas recusa um marido diferente do batalhador de outros tempos. É preciso que ele reassuma a sua antiga postura ideológica.
Dino Risi sempre foi um diretor italiano bastante respeitado pelos filmes de crítica no estilo comédia, como: “Aquele que Sabe Viver”(1962), “Os Monstros”(1963), “Férias à Italiana”(1966), “Perfume de Mulher”(1974) entre outros. Nesse tom da sátira, em meio às situações hilárias, com desempenho de atores como Alberto Sordi, há sempre um vínculo de critica social. E neste “Uma Vida Difícil”, o tema é ampliado num painel da história italiana contemporânea. Funciona muito bem. O roteiro é de Rodolfo Sonego, autor de mais de 80 roteiros do gênero. Como Risi disse em “Esse Crime Chamado Justiça (1971): “rindo castiga-se mais”. É o caso, neste trabalho muito bom e pouco visto entre os cinéfilos paraenses e que precisa ser lançado numa das sessões extra para dar a conhecer à nova geração os filmes de um período hoje pouco visto.
“Amarga Sinfonia de Aushwitz”(Playing for Time/EUA 1980) foi realizado para a televisão e ganhou 4 Emmy (o Oscar da TV). Vanessa Redgrave protagoniza Fania Fenelon, uma pianista judia deportada para o campo de Aushwitz e só escapando da câmara de gás por ser expert em música. Formando um conjunto entre as colegas de cela vê seus dias seguirem em frente com o aplauso dos nazistas. Mas até aí presencia torturas e encaminhamentos para os módulos onde as pessoas morrem intoxicadas. O filme dirigido pelo veterano Daniel Mann (“Disque Buterfield 8”) tem roteiro de Arthur Miller e se baseia no livro da própria Fania. É um dos melhores relatos sobre o tema e não assisti em TV brasileira nem me lembro de ter chegado em VHS ou DVD anteriormente.
“Sempre Bela” (Belle Toujour/França 2010) é uma homenagem do veteraníssimo Manoel de Oliveira (102 anos) ao clássico “Belle de Jour”(Bela da Tarde) de Luís Buñuel. Aqui o personagem que naquele filme já era interpretado por Michel Piccoli reencontra Severine, que antes fora vivida por Catherine Deneuve, hoje uma viúva de passagem por Paris. Ele força um encontro pensando em um romance. Mas ela rejeita. O tema é tratado de forma quase alegórica, com diálogos declamados e montagem tímida. É um programa curto, mas que se dimensiona pelo modo como é apresentado. O tom atual revela-se distanciado não deixando a impressão de pessoas solitárias em busca do passado. Inédito nos nossos cinemas. É filme de Manoel de Oliveira, portanto, uma perspectivaa nova para recorrer ao modo de este cineasta avaliar as ocorrências. Dessa forma, causa impacto em quem espera uma “continuação” buñueliana de um enredo, mesmo naquele momento, tão incisivo na alegoria da “Belle de Jour”. (Luzia Álvares)
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