segunda-feira, 5 de março de 2012

"TÃO FORTE, TÃO PERTO"

Os norte-americanos ainda não expiaram a dor sentida com as perdas de tantos parentes e amigos no atentado ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001. O livro de Jonathan Safran Foer trata disso e o filme de Stephen Daldry ,ora em cartaz, endossa. No caso, é o que sente esposa e especialmente o filho, de um executivo que morre num dos prédios abalados por aviões manobrados por terroristas. No caso do filme, o personagem central, Oskar Schell (Thomas Horn), um pré-adolescente muito ligado ao pai, não se conforma com o acontecimento, ainda mais por ter estado perto do telefone quando o pai tentava falar com ele ou com a esposa(ausente) sem que tivesse a coragem de atender.
“Tão Forte e Tão Perto”(Extremely Loud and Incredible Close/EUA,2011) pode parecer um melodrama que exalta valores nacionais (norte-americanos) e se detém num portador da Síndrome de Asperger (dificuldades em processar e expressar emoções), menino genial que fala muito, gesticula muito e pensa em resolver todos os problemas que lhe apareçam.
Depois de saber da morte do pai, Oskar resolve mexer no armário dele. A mãe/esposa(Sandra Bullock) havia mantido intacto, tudo o que o marido deixou ao sair de casa. No meio das roupas e caixas o menino acha um vaso azul, que inadvertidamente quebra, e deixa ver um envelope com uma chave em seu interior e neste a inscrição “Black”. É o começo de uma missão do filho inconsolável: descobrir quem é o dono da chave, quem é Black o destinatário, visitando as familias com esse sobrenome em uma megalope como Nova York.
É evidente que a chave é uma metáfora. A busca é mais complexa, mais abrangente. O menino quer achar o motivo de ter perdido o pai a quem era tão ligado. E o papel aparentemente passivo da mãe acaba se mostrando a sombra desse menino, percorrendo sem ele saber os meus lugares por onde ele anda atrás do nome-simbolo de suas buscas e encontrando as mesmas pessoas que de alguma forma sentem, como ela (e ele), o drama provocado pelo cruel atentado.
O diretor Daldry é homem de teatro e como tal privilegia o contato com atores. Por isso, o novato garoto Thomas Horn ganha quase todas as seqüências do filme. E muitos closes. Para isso, a exigência a um ator praticamente amador é imensa. E Horn se sai bem. Suas palavras: “Meu personagem evidentemente vive uma situação muito emocional (....), seu pai era 95% de seu foco no mundo. Tenho por sorte uma família incrível sem nenhuma perda significativa na vida, mas tentei muito entender esse personagem. O que eu fazia era ir a um pequeno quarto e pensar como o personagem se sentiria. Passava cinco, dez, quinze até trinta minutos para me preparar para uma cena”.
Horn ganhara um concurso do quis show “Jeopardy” e isto valeu para que lhe pedissem um teste em video de atuação. O teste agradou e o garoto contratado para o ambicioso papel de Oskar, no filme o filho único dos personagens de Tom Hanks e Sandra Bullock- além de neto de Max Von Sidow. Com tão ilustre companhia, o novato apresentou uma exemplar performance. E não exagerou, como alguns viram. Desempenha bem o papel de quem tenta superar uma perda e aceita um desafio para isso.
Há espaços vazios que impedem um resultado melhor, mas não chegam a desmerecer um bom trabalho de diretor e elenco (apenas Sandra Bullock surge sem oportunidade e exibindo com insistência uma expressão de choro). O que deve ser observado em “Tão Forte e Tão Perto” ou “Extremamente ruidoso e incrivelmente próximo” é a questão do abalo sentido por uma população, a partir do enfoque de uma família, com uma tragédia inesperada. Pode parecer tardio (são 10 anos), mas a dor persiste e o cineasta de “As Horas” aposta que sim. Certo ou errado seu filme não fez muito sucesso de publico ou de critica apesar de ter concorrido ao Oscar de filme e ator coadjuvante (Sidow). Ignoraram o jovem Horn. Mas ele deve ressurgir, embora não tenha nada programado até agora. E não sei (pois não vi) se ele estava na platéia da entrega dos prêmios no domingo passado. (Luzia Álvares)

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