terça-feira, 20 de março de 2012

"PINA" DE WIN WENDERS ESTREIA SEXTA DIA 23/03 EM BELÉM

O advento do formato 3D no cinema atual faria o diretor americano Peter Bogdanovich ter mais um surto e repetir a sua célebre frase de que o cinema acabou nos anos 60 e que todos os grandes filmes já foram feitos.
Como será que ele reagiu ao ver seu contemporâneo Martin Scorsese se render ao 3D e ter concebido uma pequena obra-prima como “A invenção de Hugo Cabret”? Ou, ao ver que, da Alemanha, os diretores Werner Herzog e Wim Wenders usaram o formato e deram ao cinema mundial obras definitivas como “A caverna dos sonhos perdidos” e “Pina”, respectivamente? Não há como negar: o futuro da Sétima Arte é 3D.
Amantes do cinema em Belém tiveram a oportunidade, na última quinta-feira, de conferir a primeira incursão de Wim Wenders nesse formato, em pré-estreia. “Pina” está sendo reconhecido como o primeiro filme de arte em 3D. E eu diria que, além de arte, “Pina” é uma experiência sensorial de vida.
Não é a primeira vez que Wenders desenvolve um documentário. São dele filmes como “Quarto 666”, “O filme de Nick”, além do premiado “Buena Vista Social Club”. Por isso, não seria novidade que Wenders voltasse suas lentes para a bailarina e coreógrafa alemãPina Bausch, a quem ele admirava profundamente.
Pina sempre teve uma relação estreita com o cinema. Outros documentários já haviam mostrado o trabalho dela, e o diretor Pedro Almodóvar traz em “Fale com ela”, um trecho com o solo dela em “Café Müller”. Mas para mostrar toda a intensidade da vida e trabalho dela, Wenders disse que não conseguiria fazê-lo se não fosse em 3D.
O trabalho começou, mas Bausch faleceu em 30 de junho de 2009, aos 68 anos, ainda antes das filmagens. Wenders resolveu levar o filme adiante como forma de homenageá-la.
Wenders elegeu quatro dos balés coreografados por Pina para sua companhia Tanztheater Wupperta, que continua na ativa. O diretor usa imagens de Pina, em preto e branco, e em cor estão as da companhia. Em dois dos balés, a companhia fica no palco, como o próprio “Café Müller”, que é recriado e revisto no filme, e nos outros, a companhia fica, literalmente, na rua.
O filme utiliza cenas dos balés e cenas de solos dos bailarinos com as falas cobrindo essas imagens. Para essas cenas, Wenders coloca os bailarinos em vários lugares, que são tão inesperados e díspares que não se pode ficar sem pensar como a produção conseguiu lugares tão inusitados.
Além dos balés, onde fica clara a entrega total dos bailarinos, é na fala deles, reverenciado a mestra que reside a paixão com que Pina movimentava seus pupilos.
Um grande tento a favor do filme (e de Wenders) é que ele respeita a nacionalidade dos bailarinos. Assim, é com uma emoção grande que se ouve uma das bailarinas falar em português. Outra surpresa é que num dos solos, a música utilizada é “Leãozinho”, de Caetano Veloso.
A fotografia de “Pina” é outro ponto alto. Wenders combina a aspereza de elementos como terra, pedra, trânsito, folhas secas, que são “duros”, em contraposição à leveza dos bailarinos. E há cor, muita cor.
Mas é na fala dos bailarinos, em off, e nas lembranças deles que a emoção fica mais forte. Um deles diz: “Ela (Pina) me disse ‘dance por amor’”; outra diz “Pina, espero que você entre nos meus sonhos”; uma outra: “Eu me escondia dela (Pina), e ela me disse ‘estou extremamente triste. Por que você tem medo de mim?’”; e uma outra ainda: “Ela me ensinou: ‘você precisa enlouquecer mais’”. Outros deles não falam nada e deixam o olhar falar por si. Não são falas sobre uma pessoa qualquer, são falas sinceras sobre alguém que os ensinou a arte de viver. Sobre o que é a vida em si. E na fala final de Pina que tudo se encerra. Ela diz “Dancem, dancem, ou do contrário, estaremos perdidos”.
Como disse, “Pina” deixou a plateia de quase 60 pessoas, em Belém, na pré-estreia, mudas e “transformadas” com experiência. A entrada do filme no circuito normal está nas mãos (e planos) da distribuidora Imovision, que, esperamos ter a sensibilidade de levar esse filme a um público maior em Belém.(Dedé Mesquita)

Dois filmes me vieram à cabeça ao ver “Pina”:“A estratégia da Aranha” e “A
Insustentável Leveza do Ser”. Não que exista relação direta com o argumento, mas as palavras da titulagem brasileira me pareceu dominar o conceito da junção do
cinema de Win Wenders e Pina Bauch, a coreógrafa. Os dois são alemães,
que na dureza da língua traduz a filosofia da palavra. Existe uma
palavra não falada sem nenhum som? Assim talvez seja a arte de Pina
Bauch, a um gesto, inúmeros dizeres e nenhuma palavra dita, porém uma
verborragia infindável. O cinema já é falado, a dança fala com o corpo, o
gestual. A recriação de espetáculos, a inserção de coreografias em meio
ao ambiente urbano, entremeados com depoimentos dos bailarinos,
traduz a narrativa meio documento, meio teatro-dançado. A utilização do
3D é essencial, com ele estamos na plateia do Tanztheater Wuppertal Pina
Bausch, localizada em Wuppertal,a casa de Pina. O filme superlota
várias salas em Sampa, tomara que a Mangueirosa faça jus a um passado
rico de movimento artístico e veja uma obra de infinitos sentimentos.
(Ismaelino Pinto)

Um comentário:

Ícaro disse...

Só faltou o mais importante: local e o horário da exibição.

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